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Carnaval

Carnaval de Salvador é a maior festa de participação popular do planeta. Criado e mantido pelo povo, trata-se de uma manifestação espontânea e livre, onde o carnal, o lúdico e o físico se misturam com a emoção e a ginga dos baianos que conseguem renovar a folia a cada ano.

Os foliões festejam em três principais circuitos: Dodô (Barra–Ondina), Osmar (Campo Grande–Avenida Sete) e Batatinha (Centro Histórico). Em 2013, foi criado o Afródromo, dedicado exclusivamente aos blocos afros e afoxés e com estreia em 2014, partindo do bairro do Comércio. Há também carnaval nos bairros de Cajazeiras, Itapuã, Periperi, Plataforma e Pau da Lima. Durante o evento, dezenas de cantores famosos desfilam nos trios elétricos — caminhões grandes com luzes e som, acima do qual os artistas cantam e dançam. Dentre as atrações, destacam-se nomes da música baiana: Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Margareth Menezes, Bell Marques, Asa de Águia desfilando em blocos diversos, como também os tradicionais blocos carnavalescos como o Olodum, Timbalada, Filhos de Gandhy e Ilê Aiyê. Cerca de dois milhões de pessoas participam das festividades anuais que duram quase uma semana, mergulhando na música e na dança. Durante dezesseis horas por dia a cultura popular brasileira atinge a sua máxima expressão e economia local e Salvador recebe um impulso de proporções inequívocas.

FOBICA: criada em Salvador, no ano de 1950 pelos amigos Adolfo Antônio do Nascimento (Dodô) e Osmar Alvares Macedo (Osmar). Após observarem o desfile da famosa “Vassourinha”, entidade carnavalesca de Pernambuco que tocava frevo na Rua Chile, resolveram restaurar um velho Ford 1929, conhecido como fobica. Na oficina mecânica de Osmar, foi decorada com vários círculos coloridos (confetes) pintados e duas placas em compensado no formato de violão com os dizeres “Dupla Elétrica”. Com formação em Radiotecnia, Dodô montou uma fonte ligada à corrente de uma bateria de automóvel, que alimentaria a carga para o funcionamento dos alto-falantes instalados na fobica. E assim, em plena tarde do domingo de Carnaval, a dupla subiu a Ladeira da Montanha em direção à Praça Castro Alves e Rua Chile em cima da fobica decorada e eletronicamente equipada, arrastando milhares de pessoas.

TRIO ELÉTRICO: caminhão adaptado com aparelhos de sonorização, que chega a pesar 35 toneladas, em média, com a estrutura para shows musicais ao vivo durante cerca de 5 horas em cada circuito do Carnaval de Salvador. A potência do motor da carreta que puxa o trio varia de 300 a 440 cavalos de força. A voz do trio elétrico era apenas a guitarra baiana e só veio a ter cantor a partir de 1975.

CARRO DE APOIO: É o segundo caminhão que faz parte do bloco, em sua maioria reproduzem o som do trio. Ele também é adaptado, porém com estrutura a dar conforto aos foliões, como banheiros, bares e posto médico. Hoje em dia, muitos blocos colocam à venda abadás especiais (abadás VIPs), que dão direito a ficar na parte superior do carro de apoio.

GUITARRA BAIANA: instrumento criado por Dodô e Osmar em 1942. Conhecida primeiramente como pau elétrico, chegou a ganhar o nome de cavaco ou cavaquinho de trio e, em meados da década de 70, foi redesenhada e rebatizada com o nome de guitarra baiana por Armandinho Macedo (filho de Osmar). Voz do trio elétrico por muito tempo, que só veio a ter cantor a partir de 1975, a guitarrinha passou a ter, no início dos anos 80, uma quinta corda, diferenciando-a de qualquer outro instrumento.

CORDAS: Cada bloco é limitado por cordas, que são suspensas por cordeiros, isolando o folião da área externa do bloco, dando-lhe total segurança e conforto.

CORDEIRO/CORDEIRA: São homens e mulheres, devidamente selecionados e contratados, para segurarem as cordas que cercam os integrantes do trio. Os cordeiros devem manter as cordas suspensas, garantindo a segurança do folião e permitindo uma tranquila fluência do bloco nos circuitos. Todos são uniformizados, recebem equipamentos de proteção individual (EPI), como luvas e proteção auricular, e são divididos por lados (lateral direita, lateral esquerda, frente e fundo) para que todo o trio, carro de apoio e foliões estejam protegidos pelas cordas.

ABADÁ: criado na década de 90 pelo artista plástico Pedrinho da Rocha, o abadá veio substituir as antigas e pesadas mortalhas (vestimentas). São camisas customizadas para cada bloco, que dão direito ao folião brincar dentro das cordas.

PIPOCA: conjunto de foliões que não possuem abadás, mas, como o carnaval de Salvador é bastante democrático, tem espaço para todos. Portanto, os foliões pipoca curtem do lado de fora do trio e muitas vezes acompanham o artista de sua preferência ao longo do circuito. A pipoca do Chiclete – bloco puxado pelo cantor Bell Marques até 2014 – ficou conhecida como a maior de todos os circuitos de Salvador.

CAMAROTES: São estruturas em torno dos circuitos, para quem prefere um maior conforto para curtir o carnaval. Os camarotes proporcionam ao folião visão privilegiada, com um interior equipado com boates, lounges, baianas de acarajé, inúmeros restaurantes, customização de abadás, salão de beleza e até SPA, além de shows exclusivos.

CAMAROTE ALTERNATIVO: São apartamentos localizados ao longo dos circuitos da folia momesca, que durante o carnaval são alugados para foliões que queiram ver de perto os artistas sem sair de casa. Funcionam como um verdadeiro camarote alternativo e, muitas vezes, são enfeitados com mensagens aos músicos que passam pelo circuito.

TRIO INDEPENDENTE: São trios elétricos que desfilam sem corda pelos circuitos para a alegria dos foliões pipoca. Os trios independentes sempre trazem artistas de renome e contam com o apoio da Prefeitura, Saltur, governo do Estado e empresas parceiras.

SÓCIO-FOLIÃO: É o folião que se associa a um bloco. Ele paga as mensalidades e tem o direito de sair e usufruir de todo conforto e segurança de um bloco.

COMISSÁRIO: São pessoas habilitadas para vender os abadás dos blocos.

ENTREGA DE ABADÁS: A entrega de abadás de blocos e camarotes é feita geralmente em sete a 15 dias de antecedência do carnaval. Uma superestrutura é montada em vários cantos de Salvador para o folião receber o seu kit contendo seus abadás, brindes e sacolas.

BLOCOS AFROS: São blocos que exaltam e valorizam a cultura negra, levando para os circuitos muito batuque, charme, dança e poesia. O diferencial é que eles não usam abadás e, por serem fieis às origens, usam as tradicionais fantasias.

MOMO: segundo a História da Arte, ator que representava nas farsas populares do antigo teatro. Originário dos bobos encarregados de divertir os amos e senhores portugueses que habitavam os paços reais e as residências nobres com mímicas e farsas populares. No carnaval, o Rei Momo recebe a chave da cidade e se torna guardião durante os dias da folia momesca. No Carnaval de Salvador, a oficialização do Rei Momo aconteceu em 1959 por iniciativa da Rádio Excelsior, apesar do concurso também ter acontecido anos antes em bailes de salão, que personificava a figura do deus grego irreverente. Em 1990, a Federação Baiana dos Clubes Carnavalescos comprou os direitos de promover a eleição e elegeu o primeiro momo escolhido pelo voto. Atualmente, o concurso é promovido pela Federação Baiana das Entidades Carnavalescas, com apoio da Prefeitura e do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar).

ARLEQUIM: personagem da antiga comédia italiana (commedia dell’arte) – de traje multicolor e feito em geral de losangos com a função de divertir o público nos intervalos, com chistes e bufonadas – foi posteriormente incorporado como um dos personagens nas peripécias das comédias, transformando-se numa de suas mais importantes personagens. Amante da Colombina. Farsante, truão, fanfarrão, brigão, amante, cínico.

COLOMBINA: Principal personagem feminina da commedia dell’arte, amante do Arlequim e companheira do Pierrô. Namoradeira, alegre, fútil, bela, esperta, sedutora e volúvel. Vestia-se de seda ou cetim branco, saia curta e usava um bonezinho.

PIERRÔ: Personagem também originário da commedia dell’arte, ingênuo e sentimental. Usava como indumentária calça e casaco muito amplos, ornada com pompons e de grande gola franzida.

FURDUNÇO: movimento criado pela Prefeitura de Salvador em 2014 para valorizar pequenos equipamentos e manifestações culturais no chão, resgatando antigos carnavais.

MUDANÇA DO GARCIA: surge oficialmente em 1959 como crítica social e política no Garcia, onde se originara grandes afoxés, escolas de samba, batucadas, cordões e blocos de índio. Teria nascido de uma dissidência de outro bloco, mas sua história possui duas versões. A primeira teria sido criada pelo vereador Herbert de Castro, que vai às ruas com a comunidade com carroças puxadas por burros, panelas e penicos para protestar pela falta de água, luz e asfalto – desfile que sensibiliza a prefeitura a executar os serviços. Outra versão é o surgimento nas décadas de 20 e 30 e seu nome à alusão da expulsão de uma prostituta que havia se mudado numa segunda de Carnaval para a Rua do Baú.

MICARETA: carnaval fora de época. A primeira a ser realizada na Bahia e no Brasil foi no município de Jacobina em 1912. Dois anos depois, Salvador também iniciou a realização da festa (denominada pelos soteropolitanos como micareme), que a princípio acontecia em meio a quaresma, quando a chuva atrapalhava os defiles dos dias de momo. O nome micareta surgiria apenas em 1935, através de um concurso promovido pela Associação dos Cronistas Carnavalescos.